Prólogo
O tempo as vezes parece ser o amigo para a cura de tragédias.
Perder um grande amor, na maioria das vezes, pode ser uma grande tragédia. Porém, a força está contida a cada dia vivido tentando libertar-se da dor proveniente da saudade, do sofrimento, da desilusão.
Sentado na varanda de sua casa, com os olhos fixos nas águas agitadas que quebravam sobre as rochas, ele abraçava o próprio corpo, agora franzino, tentando livrar-se da brisa gélida trazida pelo oceano que afagava-lhe os cabelos gentilmente e esfriava sua pele pálida. Fechou os olhos e suspirou. Liberdade. Era isso que sentia cada vez que pensava que pudesse enfim juntar-se à ela. Estava preso entre dois mundos, o mundo real e o mundo... - pensou durante alguns segundos - um mundo que ele não conhecia, mas estava muito perto de alcançá-lo - completou seus pensamentos.
Retirou as mãos do abdômen e elevou-as ao rosto, escondendo a própria face.
- Você está se sentindo bem? - perguntou uma voz interrompendo seus pensamentos e caminhando na sua direção.
- Sim, está tudo bem. Você tem que voltar a estudar Raíssa, não pode ficar aqui, tomando conta de mim.
- Pai, você sabe muito bem que mesmo que eu não estivesse aqui, também não estaria estudando - ela amarrou os cabelos num rabo de cavalo impedindo-os de agitar-se com o vento. Com a mão direta arrumou os fios de sua franja, colocando-os detrás da orelha direita e sentou-se abraçando Felipe.
- Não gosto da forma como vem agindo ultimamente Raíssa. Não lhe reconheço, não quero que continue assim quando...
- Pare!- esbravejou ela antes que seu pai concluísse os pensamentos.Respirou fundo e continuou. - Não vamos falar disso agora, por favor, pelo menos por enquanto.
Ele consentiu com um aceno de cabeça e afundou o rosto nos cabelos lisos de sua filha.
Uma lágrima desceude seus olhos enquanto abraçava ainda mais forte aquele corpo que agora deixava para trás a sua garota, sua menina, para tornar-se uma linda e incompreendida mulher.
Chegou a conclusão que por mais que seu coração tivesse divido entre os dois mundos, agora já não importava mais, seu destino já fora decidido. A cada dia seu espírito partia, afastando-o da única coisa que ainda o prendia naquele local. Não podia deixá-la sozinha, não do jeito que se encontrava, da forma em que vivia. Lembrou-se das inúmeras vezes em que chorou sozinho escondido no quarto. Apertou ainda mais ela contra seu peito.
Raíssa chorava silenciosamente. Com os braços fracos de seu pai comprimindo-a contra ele, sentia aquele coração bater com dificuldade, seu corpo parecia aquecer o corpo de seu pai. Não podia perdê-lo também, não agora, não deste jeito. O sentimento de raíva invadiu seu coração e sua consciência. Raissa apertou firme com os dedos o tecido grosso da camisa de seu pai, tentando impedir que ele escapasse de suas mãos, porém sabia que o destino dele era certo.
Ele sentiu quando ela apertou o tecido de sua camisa, e aquilo o causou ainda mais aflição. Tinha que fazer alguma coisa, não podia permitir que sua única filha se perdesse ali, daquela forma, morrendo junto com ele a cada dia. Enfim tomou uma decisão, e depois de tantos anos, iria recorrer àqueles que no passado fizera com ele “o laço”, na verdade os quatros laços.
Sua hora de utilizá-los havia chegado.
****
Sentado diante do computador, ele digitava as palavras num ímpeto incontrolável, tentando evitar ceder à lamúria que lhe apertava o peito. Sentiu uma dor lancinante no estômago. Seu rosto contorceu-se pesando as feições de sua face, porém, aquilo parecia não impedí-lo de digitar o texto que seguia as palavras ditadas pelo seu coração. Sem perceber, uma lárgiuma percorreu sua face e caiu sobre o teclado.
Olhou para o lado onde Raíssa dormia serenamente. Nem mesmo a pesada maquiagem, os olhos fundos e sombreados de negro tiravam a doçura e sensibilidade daquela doce menina, sua filha. O piercing no nariz e no queixo ainda o incomodava, mas ele sabia que após tudo que ela passava era natural reagir daquela forma. O rosto marcado pelo negro de sua sombra deixava claro que Raíssa havia chorado.
Seria bom para ela, tinha certeza disto.
Novamente a dor o incomodou, desta vez deuma forma tão forte que não pode evitar em expelir um grito de sofrimento proveniente daquela doença que o levava a cada dia.
Raíssa levantou da cama sobressaltada.
Impulsionada por instinto, a primeira palavra que saíu de sua boca foi um sonoro “Pai”, correndo na direção dele, que estava caído no carpete, com as mãos apertando fortemente o abdômen. Suas feições deixava clara a dor que sentia. Ela oajudou a se levantar colocando-o sobre a cama.
- Você está bem? - perguntou beijando-lhe a testa.
Raíssa, meu bem – disse sobrpondo a mão direita na face da filha – Precisamos conversar – foi tudo que disse.
Parte I
Rio de Janeiro
23 de Janeiro de 2014
21h32m
Ele afinava sua guitarra enquanto ouvia os gritos desesperados dos milhares de fãs que clamavam por seu nome. Nunca em sua vida imaginou que um dia pudesse ser amado e aclamado por pessoas que jamais teria a chance de conhecer, e tudo por um pequeno vídeo postado no youtube durante sua adolescência.
Recordou-se dos amigos de infância, da fase perdida na adolescência, dos amores, festas e bebedeiras. Um sorriso preencheu seu rosto ao lembrar-se dos amigos... Há quanto tempo nãos os via, há quanto tempo não falava com nenhum deles, não desde que...
- Jim, você está pronto?
Ele consentiu com a cabeça e entrelaçou o pescoço com o laço que sustentava a guitarra. Antes de entrar, seu computador sinalizou a chegada de um novo email. Colou cou a mão na parede e hesitou subir ao palco. Sua banda já iniciava os acordes para a música, porém, algo o fez voltar ao computador, um sentimento que não soube explicar ao certo do que se tratava.
Sentou-se diante do notebook e acessou sua caixa de email.
Quando viu de quem se tratava, sentiu um frio na espinha. Sabia que aquele correspondente não viria trazer-lhe boas notícias, nunca viera.
Aquela seria a segunda vez que seriam chamados, nunca pensou que um dia fosse levartão a sério aquilo. Antes que pudesse clicar para acessar o email, novamente é interrompido.
- Jim, amor, precisamos subir agora.
- Tudo bem Camila, estou indo.
Após o show leria aquela mensagem.
- Está tudo bem? - Camila perguntou ao perceber a atitude estranha de seu marido.
- Não, está tudo bem- respondeu com um sorriso amarelo.
- Então vamos amor, vamos fazer o nosso rock n' roll! - exclamou segurando o rosto dele e beijando-lhe ardentemente a boca.
Por um instante esqueceu-se do passado.
Ao pisar no palco esqueceu-se completamente do passado, aquilo era seu novo mundo, sua vida.
Estar diante da plateia era mais do que trabalho, era um prazer, uma satisfação. Olhou para Camila que iniciava seu solo de guitarra antes do vocal. Sentiu tesão. Amava aquela mulher. Os cabelos negros amassados e longos tocavam as costas nuas da esposa. A boca carnuda e avermelhada era ainda mais sexy com o piercing que a enfeitava. Ela sentiu o olhar de Jim e retribuiu, encarando-o por longos segundos.
A plateia urrava de emoção e alegria enquanto Camila tocava e cantava olhgando fixamente para Jim. A química entre os dois era perfeita, e todos podiam também sentí-la.
Agora era sua vez, tocou e cantou como nunca antes havia feito. Sua energia era renovada a cada nota, a cada acorde, era aquilo que amava fazer, e jamais abriria mão disso. Lembrou-se da mensagem em sua caixa de entrada do email, tocou com mais afinco, com mais emoção. Precisavam dele. Nunca mais havia recebido um email daquele destinatário, não até hoje. Mesmo depois de tanto tempo ainda não estava preparado para aquilo, afinal, não tinha a menor ideia de qualseria o motivo para novo email, não daquele destinatário, não do “quatrolacos1@mail.com”.
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Espero que gostem.
Tanner Menezes
Espetáculo! Adorei minha personagem hahaha
ResponderExcluirquero ser a primeira a ler o livro depois de pronto :)
Mt bom Tanner! O sucesso baterá a tua porta. Bem escrito.!
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