As pessoas andam muito abaladas com a tragédia recente que aconteceu no Rio. Muito anda se falando, no Brasil e no mundo, sobre a fatídica chacina que ocorreu com aqueles ‘brasileirinhos’, como foram comoventemente nominados pela nossa Presidente. Me fez lembrar as cruzadas, a palestina, e tantas outras situações históricas em que Deus foi razão, e desculpa, para massacres. Não compreendo o que faz um ser humano entrar em uma escola e aniquilar crianças. Talvez ele já tivesse perdido o ‘humano’ há tanto tempo.
Mas o que quero tratar corre por outro flanco. Antes de tudo, quero deixar claro que isso me abalou muito, chorei ao ver imagens das crianças ao chão e como se deu aquilo tudo. Só que, sendo escritor, não só me apetece, mas também se faz uma necessidade a de gritar por algo a mais: De que vale uma alma em prantos, e um corpo inerte? Ora, por mais estrondoso que tenha sido, quantas outras carnificinas acontecem todos os dias mundo afora? Quantas crianças são submetidas ao crime, à prostituição, à escravatura, para satisfazer o nosso sistema? Quantos filhos não são estuprados, mortos, pelos próprios pais e familiares? Quantos bebês são trocados na maternidade, quantas crianças estão hoje com tantos filhos para cuidar, quando não tiveram nem tem ninguém para cuidar delas? Quantas pessoas estão nas ruas sem ter o que comer, onde dormir, e nem mesmo sol ilumina um palmo às suas frentes... A depravação e a deturpação dos princípios e essências que nos tornam humanos já não nos causam mais espanto. Diariamente, nos acostumamos com isso tudo, e permanecemos inativos. Em casos como esses jogadores vão ao estádio e levam placas, as pessoas se comovem, os jornais se atolam de notícias. Mas em uma semana, tudo voltará aos conformes, e a Jessica, a Mariana e os demais, também serão levados pelo esquecimento, assim como ninguém mais nem lembra onde fica o Japão.